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Turma da Mônica em:

Os gibis como ferramentas sociais

Como os gibis impactam diretamente na forma como vivemos? Essa pergunta é respondida por Maurício de Sousa, quadrinista e empresário, em entrevista para o portal Canguru News, em 2021. O criador comenta que os quadrinhos sempre tiveram uma grande influência na formação das crianças e adolescentes e, para ele, é importante que as narrativas da Turma da Mônica reverberem a realidade, com personagens que trazem diversidade e inclusão, garantindo que todas as crianças se sintam representadas. “A Turma da Mônica é um grupo de personagens que vive e age como crianças normais. Como nossos filhos ou conhecidos”, diz.

Conheça os personagens que representam a diversidade e inclusão nos quadrinhos da Turma da Mônica:

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José Felipe Vaz, jornalista, mestre em comunicação midiática e especialista em comunicação, diversidade e inclusão, explica que nós viemos de uma evolução que prioriza demandas e movimentos sociais, que buscam representações que sejam fidedignas à realidade. Ele destaca a importância dos quadrinhos serem palco para debater temas socialmente relevantes: “Quando a gente tem quadrinhos, narrativas e personagens que retratam isso, nós crescemos não só como sociedade, mas a gente passa a entender a diversidade e a inclusão como parte de quem a gente é. Trazer isso para as histórias em quadrinhos, para um público infantil e para um público que não tem tanto contato com questões de diversidade, mas que deveria ter para ser uma formação na base de educação, é algo que faz com que nós, enquanto sociedade, possamos evoluir”. 

Dessa forma, os gibis assumem um papel além do entretenimento, pois servem também como uma ferramenta de conscientização e ensino, amplificando vozes e criando um senso de comunidade. Raimunda Alves Melo, doutora e mestre em educação, ressalta que essas produções têm a capacidade de reunir aspectos artísticos e literários que antecipam temas que são do interesse das crianças, estimulando o pensamento de vivências atuais e/ou futuras. 

“As histórias em quadrinhos contribuem significativamente para a formação e o desenvolvimento não apenas dos sentidos cognitivos, mas dos socioemocionais. Ao trazerem determinadas temáticas, elas antecipam esses sentimentos através da leitura, seja da linguagem escrita ou da linguagem visual. Elas possuem um valor agregado que é muito significativo para o processo de formação humana.”

Raimunda Alves Melo, Doutora e Mestre em Educação.

 Créditos: FiveHive.

Karina Picon, psicóloga infantil e escritora, também explica que os gibis são fundamentais para abordar diversos temas, fazendo com que as crianças percebam experiências e vivências que podem estar acontecendo com elas, tanto no ambiente escolar quanto em casa ou na rua. “A maneira como o bullying é tratado nas histórias em quadrinhos pode sim servir como um ponto de partida para a reflexão complexa, assuntos difíceis de serem abordados, porque, de uma forma lúdica, a gente consegue trabalhar as emoções das crianças, a troca de papeis, a inversão de valores. Como você se sentiria se alguém fizesse essa brincadeira com você? Então, é uma ferramenta valiosa, principalmente, para trabalhar assuntos mais complexos. Além disso, a gente pode trabalhar a questão das diferenças, a questão da empatia, dos julgamentos e a troca de lugares e papeis”, diz. 

Apesar dos gibis possuírem um papel fundamental para a conscientização e desenvolvimento infantil, como mencionado por Karina e Raimunda, Rita Karther, psicopedagoga, também destaca que as crianças replicam tudo o que veem nos quadrinhos, de forma positiva ou negativa, pois toda leitura acaba nos influenciando de uma maneira ou de outra. “As crianças tendem a replicar o que leem, vendo os comportamentos dos personagens. A Turma da Mônica, por exemplo, ter constituído essa questão do bullying no momento em que se refletia menos sobre o assunto, isso não deixa de influenciar, de naturalizar o comportamento de brincar com as diferenças dos outros, desrespeitar as diferenças dos outros, rotular os outros pelas suas diferenças. Isso impacta negativamente no comportamento das crianças, pois não é nada ingênuo esse comportamento de bullying entre os personagens da Turma da Mônica”, afirma.

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Quadrinhos da Turma da Mônica, representando o bullying que o Cebolinha faz com a Mônica.

 Créditos: Maurício de Sousa Produções.

Nessa linha, a escolha das narrativas dos gibis é essencial para alcançar públicos-alvos e nichos do mercado. Os consumidores estão cada vez mais buscando produtos e serviços que possibilitem uma identificação pessoal, criando um senso de pertencimento e validação. “Os quadrinhos são excelentes materiais para tratar diversas questões, desde diversidade e inclusão até sustentabilidade, pois eles estão formando a base que é o nosso futuro. Se as crianças que estudam e conseguem entender pautas totalmente ligadas às questões dos direitos e da dignidade humana, elas compreendem que ser diverso faz parte de quem a gente é. Ter adolescentes que adquirem um olhar mais sensível às pautas, cria adultos mais sensíveis a elas também. Isso vai contribuir para a formação de uma sociedade que valorize esses temas, debatendo concepções que ficarão enraizadas socialmente”, comenta José Felipe. 

Raimunda ainda destaca que a Turma da Mônica oferece vários benefícios para as crianças, sendo parte da cultura infantil. “Há um interesse muito grande do autor em propor personagens que possuem características físicas e psicológicas, que são bem diferentes e específicas da infância e contribuem para as crianças conhecerem essa diversidade biológica e social que faz parte do mundo e da vida. Além disso, Maurício de Sousa trabalha com diferentes enredos e narrativas, o que promove a formação de valores que são socialmente relevantes para a formação humana e ética das crianças”, afirma. 

Responsabilidade corporativa:
uma tendência ou uma necessidade?

A responsabilidade corporativa é uma discussão que tem sido frequentemente exigida, pois as marcas passaram a reconhecer que têm um papel a desempenhar na promoção de justiça social. De acordo com o Sebrae, após promover a diversidade dentro do espaço organizacional, tanto na própria equipe de funcionários quanto na criação e venda de produtos e serviços, a empresa pode e deve ir além disso: proporcionar a verdadeira inclusão e garantir que todos terão as mesmas oportunidades e condições de desenvolvimento e destaque. 

Um levantamento feito pela McKinsey & Company indica que instituições com diversidade étnica e racial no quadro de colaboradores têm 35% mais chances de conseguir rendimentos acima da média do seu segmento. As companhias com mais diversidade de gênero possuem 15% de conquistar esse rendimento. Isso significa que investir em uma gestão voltada a isso é uma forma de abrir as portas para profissionais qualificados, tornando as equipes mais ricas de experiências e novas ideias. Além disso, os funcionários tendem a estar mais engajados e produtivos e a se sentir acolhidos e pertencentes ao ambiente corporativo. 

Dessa forma, José Felipe traz o seguinte questionamento: será que as empresas realmente estão preocupadas com as pautas apresentadas pelas demandas sociais? O especialista atenta os consumidores: 

José Felipe Vaz - Jornalista, Especialista em Comunicação, Diversidade e Inclusão
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Elaine Garcia, bióloga, especialista em sustentabilidade e co-fundadora da i9 Flow, chama a atenção do público às verdadeiras responsabilidades empresariais voltadas à pauta de ESG (Environmental, Social and Governance).

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Elaine Garcia também ressalta que a sustentabilidade e a responsabilidade sustentável empresarial não são apenas práticas corporativas, mas sim da economia circular, do capitalismo consciente e da economia verde. “As empresas acabam, muitas vezes, divulgando práticas, falando que elas estão em compromisso com as práticas ESG, porém acabam não fazendo e não tendo essas atitudes. Isso a gente chama de greenwashing. A empresa faz toda uma divulgação verde, um marketing verde sobre as suas ações, porém, na prática, ela não faz nada daquilo e é totalmente ao contrário, porque ela não está preocupada com a questão ambiental, nem social, nem com a governança. O consumidor está cada vez mais exigente com a questão de rastreabilidade dos produtos e procedência. Então, as empresas que estão comprometidas com os pilares ESG estão sendo constantemente monitoradas pelos próprios consumidores”, diz. 

De acordo com uma pesquisa feita pela MindMiners, os clientes estão cada vez mais exigentes quanto aos valores e aos diferenciais que esperam encontrar nas marcas que consomem. O estudo indica que 71% das pessoas consideram a divulgação na mídia o principal fator que motiva a adesão de uma causa, 95% preferem empresas que investem em sustentabilidade, 83% querem saber o que elas fazem para gerar valor para a sociedade além de obter lucro, 76% decidem sua compra influenciadas pelos valores propagados pelas instituições e 75% acham importante a empresa apoiar causas ESG, independente da área de atuação.

A Maurício de Sousa Produções (MSP) é uma das  empresas que, ao longo dos anos, tem se mostrado presente nessas pautas propostas pelos consumidores. Daniele Rivera destaca que os gibis da Turma da Mônica mudaram muito e que vê melhora significativa nas narrativas. “Eu acho que hoje tem muito mais representatividade, com personagens negros e com deficiência. Os próprios personagens secundários querem ter mais visibilidade. E eu vejo coisas que não tinham antes nas revistinhas. Hoje tem instruções do SEBRAE, tem várias coisas falando do trabalho invisível da mulher, alertando os papeis da mãe na família. Coisas que a gente não via nos gibis antigos, porque não era uma questão da época, né? Até a questão de como a Mônica lida hoje em dia com a raiva, da força. Antigamente era um negócio muito mais exposto, muito mais explícito, era violento, e isso acompanhou a evolução dos tempos”, diz. 

Veja imagens de antigos quadrinhos da Turma da Mônica, exemplificando a evolução comentada por Daniele: 

José Felipe ainda destaca que essa é uma estratégia que está diretamente ligada à reputação da empresa. Isso acontece porque nós vivemos em uma sociedade capitalista e muitas organizações possuem um comportamento chamado de “comportamento predatório”, que é aquele que visa exclusivamente o lucro. “As empresas vão se posicionar sobre diversidade, inclusão e sustentabilidade, porque a gente vive em uma sociedade capitalista, cujo objetivo final é o lucro. Dessa forma, elas vão atrás de nichos mercadológicos que, futuramente, podem ser potenciais clientes. A partir do momento que ela identifica esse nicho, ela vai utilizar discursos que podem atingir esse público, para que ele consuma”. O especialista completa: “Muitas delas vão usar dessas pautas para se promover. E o que a gente precisa estar de olho? Se essas práticas de fato acontecem não só dentro do ambiente organizacional, mas na relação que essa marca tem com a sociedade de uma maneira geral”.  

A FiveHive produz uma série de vídeos em seu perfil do TikTok, abordando diversas reflexões sobre o impacto dos gibis no desenvolvimento humano, sendo para lazer ou educação, questionando a superficialidade de alguns assuntos dentro das histórias em quadrinhos e explicando como a diversidade e a inclusão representadas dentro das HQ’s estão ligadas diretamente com o consumo, a fidelização do público e a amplificação das vozes dos consumidores. 

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